OS INVASORES

 
 
"Os Invasores... Seres de um planeta que está para ser extinto. O seu destino, a Terra. Sua intenção, fazer dela o seu mundo. David Vincent os viu. Para ele, tudo começou numa noite em que passava por um estrada deserta, procurando um atalho que nunca encontrou. Começou com um bar fechado e abandonado. Um homem cansado demais para prosseguir a sua viagem viu a aterragem de uma nave de outra galáxia. Agora, ele sabe que os invasores estão aqui, que tomaram a forma humana. E precisa encontrar um meio de convencer o mundo descrente de que o pesadelo já começou."

Essa era a abertura de "Os Invasores", seriado de ficção científica que passava na TV Tupi nos domingos à noite. Eu tinha uns 12, 13 anos, final dos anos 60, talvez 1970 (não mais do que isso, porque era em preto e branco, e a TV a cores começou em 1972). É incrível como até hoje eu me lembro palavra por palavra do texto de abertura. Isso deve ter me marcado muito.

Às vezes fico imaginando por quê. Meu lado psicólogo amador tenta arrumar um motivo para ter gostado tanto e lembrar tão bem até hoje do velho seriado.

Passava no domingo à noite logo depois de "Ataque e Defesa". Lá pelas 22:15, 22:30. Eu morava numa casa de dois andares, e a essa hora as mulheres já tinham subido para dormir - minha mãe, minha tia e minha avó. As pessoas dormiam cedo naquela época... E ficávamos eu e meu pai na sala vendo "Os Invasores". Não sei se isso tem a ver, a sensação de medo - afinal, eram seres invasores de outro planeta que tinham uma arma capaz de desintegrar uma pessoa, o que não era nada tranqüilo para um garoto de 12 anos. Quantas vezes não sonhei com discos voadores por causa do David Vincent? Quantas vezes não pensei na hipótese de haverem seres extraterrestres entre nós, e quem sabe não poderiam ser identificados pelo dedinho mínimo duro, sem articulação, como os invasores do seriado? Mas ao mesmo tempo tinha a proteção do meu pai, a cumplicidade, estávamos os dois juntos no mesmo barco (ou melhor, na mesma sala) vendo as aventuras do David Vincent contra os invasores. Acho que a sensação de medo junto com a cumplicidade de ver o programa com o meu pai ajudaram a tornar "Os Invasores" algo tão especial, tão importante a ponto de eu me lembrar desses detalhes até hoje.

O David Vincent era fantástico. Sozinho contra o mundo, tentando provar que os invasores existiam, enquanto todos o achavam um lunático. E pensar que um simples disparo da arma desintegradora, ou um apertão na nuca com o disco que provocava ataque cardíaco e babau David Vincent, a Terra ficaria à mercê desses seres hediondos.

E como fumava, o David Vincent. Sempre que as coisas se complicavam, ele acendia seu cigarro, dava uma gostosa baforada e pensava melhor. Eram outros tempos, fumar era tolerado, chique até. E o David Vincent fumava tanto que acho que se os invasores não o vencessem, o câncer de pulmão certamente iria derrotá-lo no futuro.

Mas não houve final. A série foi interrompida, como tantas outras. Talvez por não ter um final possível, pois os invasores eram tão fortes e tão tecnologicamente superiores que seria muito difícil a Terra derrotá-los, mesmo que Vincent conseguisse convencer as autoridades. Uma vez ouvi de um colega sobre um possível final em que o Vincent negociaria um armistício com os dirigentes dos invasores, que estariam desgostosos com o rumo que as coisas tinham tomado, não sabiam que a Terra era civilizada, iriam desistir da invasão. Mas esse episódio, se algum dia foi planejado, nunca foi ao ar. Acho que esse meu colega era mais lunático que o David Vincent, e isso foi só um devaneio dele. Pena.


Um bom material sobre "Os Invasores" pode ser obtido nos sites www.the-invaders.com e www.theinvaders.co.uk.
 

 


incluído em 17/08/2004
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